Mapeamento Sistemático
Outro conceito estudado para a elaboração do trabalho aqui proposto foi o Mapeamento Sistemático (MS).
O MS é uma forma de identificar, avaliar e interpretar todas as pesquisas disponíveis relevantes para uma questão de pesquisa particular. O mapeamento fornece uma visão geral de uma área de pesquisa, identificando a quantidade de trabalhos relacionados, os tipos de pesquisas realizadas, os resultados disponíveis, além da frequência de publicações ao longo do tempo para identificar tendências. É um tipo de revisão da literatura em que se realiza uma procura mais ampla e sistemática para verificar quais as evidências que estão disponíveis, bem como detectar lacunas e identificar áreas em que estudos primários precisam de ser conduzidos.
O mapeamento sistemático é uma forma de avaliação que envolve um tema de
pesquisa e propõe uma revisão confiável que deve ser executada à risca para fins de
auditorias e/ou replicações futuras do trabalho. O MS disponibiliza um protocolo de como o mesmo foi feito para que outros pesquisadores possam realizar a replicação.
Kitchenham aponta três etapas para realizar o mapeamento: 1ª planeamento; 
2ª condução e 3ª apresentação, análise e discussão dos resultados.
Na etapa de planeamento é definido o protocolo a seguir, bem como é que são elaboradas as questões para apoiar a pesquisa. Ainda nessa etapa uma string de pesquisa é criada e os critérios de inclusão e exclusão são definidos para ajudar na avaliação dos estudos. Os critérios definidos procuram responder às três questões de pesquisa previstas e essas devem ser reavaliadas na análise e discussão dos resultados.
A etapa de condução descreve o processo de procura nas bases, o número de trabalhos identificados e quais deles foram selecionados, seguindo os critérios de inclusão estabelecidos. A última etapa, por sua vez, relata os trabalhos finais estudados e faz uma análise do resultado desse estudo em relação às questões de pesquisa elaboradas.
A seção a seguir descreve o mapeamento sistemático conduzido no contexto deste trabalho.
Mapeamento Sistemático sobre a Implatação da Metodologia SCRUM
O MS conduzido procurou identificar estudos relacionados com a implantação do Scrum em empresas de TI brasileiras, bem como as principais dificuldades e soluções adotadas.
Etapa de Planeamento – Definição do Protocolo
1ª Descrição do Problema
Empresas de TI têm cada vez mais procurado soluções e métodos para melhorar as
etapas de desenvolvimento das suas soluções computacionais e fornecer produtos de melhor qualidade ao cliente. A ampla concorrência tem impulsionado essa procura.
Sabe-se, no entanto, que alterar uma metodologia em vigência, na qual as equipas já estão acostumadas ou estabelecer outra quando os projetos já estão em andamento, pode ser uma tarefa difícil e com diversas barreiras.
Durante a instrodução de uma nova metodologia são indispensáveis tipos de treino para que as pessoas submetidas às tais mudanças não fiquem perdidas durante e após essa mudança.
A alteração também pode ocasionar prejuízos financeiros para a empresa, principalmente se essa alteração não for bem conduzida. Além disso, há a possibilidade de atraso na entrega de projetos, o que pode deixar os clientes insatisfeitos.
Tendo em vista os problemas expostos, o MS conduzido no escopo deste trabalho
busca identificar quais adequações podem ser feitas durante a implantação do Scrum para facilitar a condução da nova metodologia em todos os setores da empresa.
2ª Objetivo do MS
O foco deste mapeamento é identificar como as empresas de TI de médio porte
estão a introduzir a metodologia Scrum. O intuito é analisar quais os aspectos que podem ser melhorados durante e após a introdução do Scrum, bem como identificar quais as dificuldades encontradas e quais são as estratégias ou soluções adotadas pelas empresas para minimizar as falhas nos procedimentos da metodologia.
De acordo com os objetivos traçados, será realizada a análise das publicações
científicas que apresentam conteúdos relacionados aos problemas gerados em função da introdução da metodologia Scrum.
Para alcançar os objetivos propostos alguns objetivos específicos foram traçados:
 • Identificar os tipos de problemas ocorridos durante e após a introdução do
 Scrum;
 • Identificar e analisar as técnicas utilizadas para contornar os problemas após a
 adoção do Scrum;
 • Identificar relatos de melhorias no prazo de entrega dos projetos apoiados pelo
 Scrum.
3ª Questões de Pesquisa
Foram estabelecidas três questões de pesquisa que guiaram o mapeamento e que deverão ser respondidas ao fim da pesquisa. São elas:
Q1 – Qual a maneira ideal de empregar a metodologia Scrum?
Q2 – A adoção da metodologia Scrum possibilita que haja, de fato, uma melhora no prazo de entrega do projeto?
Q3 – O que fazer para permitir que a equipa tenha mais clareza nos procedimentos da metodologia? Quais as dificuldades desses procedimentos e possíveis soluções?
4ª Palavras-Chave
As palavras-chave utilizadas como strings de procura foram as seguintes: metodologia ágeis, Scrum e empresas de TI.
5ª Método utilizado para pesquisa de Estudos Primários
O método utilizado para o levantamento de estudos primários compreendeu a realização de procura em anais de conferências, periódicos e bibliotecas digitais disponibilizados no Periódicos CAPES3 e com acesso permitido para a UNIARA.
6ª Critérios e Procedimentos para a Seleção de Estudos Primários
Foram definidos os seguintes critérios para a inclusão:
I1 – Os estudos devem estar escritos em português;
I2 – Os estudos devem estar disponíveis na Web;
I3 – Os estudos devem apresentar alguma das strings de procura no seu título, resumo/abstract ou palavras-chave;
I4 – Os estudos devem ser relacionados à mudança de metodologia tradicional para Scrum;
I5 – Os estudos devem estar relacionados às metodologias ágeis e citarem o Scrum, bem como a aplicação do mesmo nas empresas;
Foram definidos os seguintes critérios para exclusão:
E1 – Estudos com idiomas diferentes do português;
E2 – Estudos indisponíveis na Web;
E3 – Estudos do mesmo tema e autor;
E4 – Estudos com disponibilidade apenas do título e resumo, devido às restrições de assinatura pela UNIARA;
E5 – Estudos que abordavam metodologias de modo geral e não citavam o Scrum.
Etapa de Condução do Mapeamento
Na etapa de condução do mapeamento o pesquisador aplica o método de pesquisa para identificar os potenciais estudos primários.
A seleção dos trabalhos consideraram quatros principais ações: 1ª Construção da string de pesquisa; 2ª Realização das procuras; 3ª Seleção preliminar dos trabalhos; 4ª Escolha do idioma.
A seleção preliminar dos estudos foi realizada por meio da leitura do título, do resumo/abstract e das palavras–chave.
A string de pesquisa elaborada para a execução do mapeamento sistemático considera os operadores lógicos AND e OR, conforme descrição abaixo:
“Scrum” AND (“médias empresas” OR “metodologias ágeis”)
Ao executar a pesquisa por meio da string citada, 1780 estudos foram contabilizados.
Após a seleção preliminar, que considerou os três primeiros critérios de inclusão (I1, I2 e I3), 34 estudos foram pré-selecionados, entre eles: artigos da revista GeP (Revista de Gestão e Projetos), teses e dissertações da BDTD (Biblioteca Digital de Teses e Dissertações).
Ao avaliar os estudos pré-selecionados seguindo os critérios de inclusão I4 e I5, 13 estudos primários foram mantidos. Os estudos excluídos não atendiam ao tema em estudo ou não abordavam a metodologia Scrum, apenas outros tipos de metodologia para o desenvolvimento de software.
Etapa de apresentação, análise e discussão dos resultados.
Nesta fase do mapeamento foi realizada a análise dos estudos primários selecionados com base nas questões de pesquisa estabelecidas para a procura. A Tabela 1 exibe os estudos primários selecionados, quais os critérios de inclusão que atenderam e quais questões de pesquisa respondem.
Tabela 1 – Estudos Primários Selecionados.
Fonte: Própria autora.



Considerando a Questão 1 (Qual a maneira ideal de empregar a metodologia Scrum?), a análise permitiu identificar que oito dos treze (8/13) estudos indicam como o Scrum deve ser aplicado. Entretanto, o estudo que mais se destacou foi o procedimento de introdução da metodologia foi o de Melcher. A autora aponta três pilares que servem de base para implementar o Scrum, nomeadamente: Transparência, Inspeção e Adaptação.
No pilar da Transparência, Melcher afirma que todos os processos devem ser visíveis e quaisquer modificações devem ser comunicadas a todos os integrantes da equipa, principalmente ao dono do produto. Dessa maneira todos compartilham o mesmo entendimento sobre o que será ou está a ser desenvolvido. A autora aponta ainda que o dono do produto deve sempre acompanhar o processo de desenvolvimento e a cada entrega realizada ele deve verificar se essa está conforme o solicitado no início da Sprint.
Para a Inspeção, Melcher alerta que os integrantes da equipa devem sempre ficar atentos aos artefatos do Scrum e ao progresso do Sprint. O objetivo é detetar variações ou impedimentos futuros. Ainda segundo a autora, as inspeções são mais benéficas quando são desempenhadas por uma pessoa que já tenha habilidade e conhecimento sobre o assunto.
Sobre o pilar da Adaptação, Melcher relata que deve ocorrer uma adaptação quando for identificado um desvio do que foi planeado, desvio esse que pode comprometer o resultado do produto e a aceitação do mesmo. Nesse caso, é preciso um ajuste imediato antes que o desvio aumente e impeça a entrega do produto final.
Ainda sobre a maneira ideal de adotar o Scrum, os trabalhos relatam que, embora existam as reuniões pré-estabelecidas (Reunião de planeamento do Sprint, Reunião diária, Reunião de revisão do Sprint e Retrospectiva da Sprint), nada impede que um integrante da equipa analise os artefatos do projeto em um horário extra ao dessas reuniões.
No que diz respeito à Questão 2 (A adoção da metodologia Scrum possibilita que haja, de fato, uma melhora no prazo de entrega do projeto?), a análise permitiu identificar que nove dos treze (9/13) estudos selecionados relataram melhoras no prazo de entrega dos seus projetos utilizando o Scrum. Nos demais estudos essa discussão não estava em foco ou não foi relatada uma experiência real.
Destaca-se o trabalho de Albino et al. que relata de maneira contundente uma melhora nos prazos de entrega de uma empresa de jogos electrónicos. Os autores relatam que implementaram um controlo maior sobre os produtos entregues e, com organização conseguiram monitorizar de forma mais precisa a rentabilidade dos projetos e os prazos para entregas.
É importante destacar que o Scrum defende a entrega de maior “valor” para o cliente, ou seja, produtos com maior qualidade. Neste sentido, a aplicação de técnicas que permitam maior interação entre os membros da equipa, bem como o planeamento, as estimativas mais precisas e a elaboração dos artefatos propostos pela metodologia, fazem com que o entendimento sobre o produto seja maior para toda a equipa, gerando dessa maneira, produtos mais coesos.
O acompanhamento do dono do produto (Product Owner) também é importante e decisivo para a entrega do projeto no tempo previsto. Esse acompanhamento permite a validação progressiva do produto e facilita o desenvolvimento, pois, caso o dono identifique algo que não está conforme o solicitado, a alteração ou a implementação é feita imediatamente ou planeado para o próximo Sprint, não deixando para o final do projeto, como é feito em metodologias tradicionais.
Ainda sobre a metodologia Scrum e os prazos para a entrega de projetos, a autora deste trabalho faz parte da equipa de TI de uma empresa de médio porte situada na cidade de Araraquara –SP e ratifica tais informações. A empresa precisou recentemente de adequar o seu processo de desenvolvimento para a metodologia Scrum. Observou-se na ocasião, uma dificuldade inicial na adaptação dos membros da equipa à nova metodologia. A equipa foi reticente quanto ao uso dos procedimentos, artefatos e reuniões, o que causou atraso dos Sprints iniciais, já que gastou-se mais horas do que aquelas previstas na Reunião de planeamento. Entretanto, com o passar dos Sprints e o acompanhamento mais próximo do Scrum Master, a equipa que melhor se adequou à metodologia e o ritmo diário de horas passou a ficar mais estável, aproximando-se do planeado e permitindo que o projeto fosse entregue no prazo previsto.
Ressalta-se, no entanto, que a metodologia Scrum é mais adequada para projetos de médio e grande porte, pois esses projetos muitas vezes procuram documentação mais detalhada e uma equipa maior. O Scrum facilita a comunicação entre os membros dessa equipa (Scrum Team). Para projetos pequenos introduzir o Scrum pode fazer com que o projeto fique “engessado”, não funcione de maneira efetiva e os membros da equipa dependam da entrega de outros membros para seguirem nas suas tarefas. Nesses casos, a adoção de outra metodologia ágil como a XP, pode ser mais efetiva. Cabe aos gestores, portanto, uma análise sobre qual é que é a metodologia ideal para cada projeto. O Scrum adequa-se bem aos projetos com equipas de tamanho médio ou grande, pois os seus artefatos e procedimentos permitem que todos tenham conhecimento geral sobre o projeto, sobre as tarefas e quem as está a executar.
No que diz respeito à Questão 3 (O que fazer para permitir que a equipa tenha mais clareza nos procedimentos da metodologia? Quais as dificuldades desses procedimentos e possíveis soluções?), os estudos analisados apresentam indícios de que sete dos treze (7/13) trabalhos fazem referência ao problema da transparência como principal dificuldade relacionada aos procedimentos da metodologia.
Neste sentido, Flores faz recomendações sobre como ter clareza nos procedimentos e melhorar a entrega dos produtos. Para o autor, não importa se a elaboração da história na fase de planeamento está perfeita, os integrantes da equipa deverão sempre interagir com o dono do produto para entender o que essa história representa. Esse é o momento em que se pode tirar as dúvidas e ouvir sugestões de melhorias, enriquecendo dessa maneira, o requisito original.
Flores ressalta ainda, que não se deve deixar de realizar as reuniões previstas pelo Scrum, também não é recomendado deixar de elaborar os artefatos. O seguimento sistemático de ambos deixa o projeto e os sprints mais visíveis aos integrantes da equipa.
Os artefatos devem estar sempre atualizados, assim como a documentação utilizada no desenvolvimento. Dessa maneira, qualquer membro da equipa pode ter acesso às informações atualizadas.
De acordo com Flores, a integração entre os membros da equipa gera os seguintes benefícios:
 • Maior comunicação entre os integrantes (menos dúvidas);
 • Menos tempo gasto examinando bugs;
 • Descoberta rápida de falhas de entendimento entre desenvolvedores;
 • Segurança em relação à mudanças, deixando claro o que será alterado;
 • Medição mais precisa do progresso do produto em desenvolvimento.
A Tabela 2 exibe um resumo dos principais problemas identificados na implementação da metodologia Scrum. Esses problemas foram observados nos estudos avaliados com o mapeamento sistemático, bem como considerou a experiência da autora deste trabalho no domínio estudado. A tabela exibe ainda sugestões e/ou estratégias que podem ser adotadas para melhorar essas dificuldades.
Tabela 2 – Problemas identificados na implantação do Scrum e sugestão/estratégias de melhoria.
 Fonte: Própria autora.


Conclusão
A partir da condução do MS foi possível fazer um levantamento dos estudos
 existentes no que diz respeito à implementação da metodologia Scrum. Entretanto, devido aos critérios de inclusão e objetivos adotados, os estudos selecionados são relatos de empresas e experiências ocorridas no Brasil. Novos estudos podem ser conduzidos para identificar se equipas de desenvolvimento de outros países passam pelas mesmas experiências e se utilizam as mesmas estratégias como solução.
É sabido, por exemplo, que equipas americanas e da Europa possuem maior produtividade e essa questão é atribuída à cultura. Por outro lado, equipas desses países interagem menos, logo, a possibilidade de falhas na comunicação são maiores.
Os estudos selecionados pelo mapeamento sistemático conduzido deixaram claro o
funcionamento considerado ideal para a metodologia Scrum. Esse funcionamento procura entregar um produto com qualidade, cumprindo os requisitos estabelecidos pelo cliente.
Porém, mesmo com os benefícios proporcionados, observa-se que parte das empresas de TI ainda tem resistência à mudança de metodologia. Os gestores não veem benefícios imediatos, a equipa sente-se vigiada e não entende os procedimentos da metodologia. Com habilidades adequadas e após a transição ser finalizada, os resultados começam a surgir, os recursos alocados nos projetos são adaptados e as estimativas passam a ser mais acertadas. Neste momento, os projetos começam a ser entregues no prazo, atendendo às necessidades do cliente e proporcionam credibilidade para empresa.
Este trabalho deixa como contribuição relatos das principais dificuldades encontradas por empresas brasileiras de TI para a implementação da metodologia Scrum, bem como reúne as principais estratégias e soluções adotadas para a melhoria desses problemas.
Tais sugestões e estratégias podem guiar gestores e desenvolvedores que ainda têm receios da mudança durante a implementação da metodologia Scrum.
Ressalta-se, no entanto, que a implementação dessa metodologia ágil deve ser previamente analisada pelos gestores e conduzida somente em cenários realmente viáveis.
- Metodologia SCRUM em empresas de TI – Parte II - 23 de Julho, 2019
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